sábado, 8 de maio de 2010

When you wish upon a star


Cansada, apesar de ter acabado de acordar, resolveu se ocupar com alguma coisa. Ajeitou o coque na cabeça, calçou pantufas azuis e foi à cozinha. Escolheu o jarro mais gelado de leite e cobriu uns dois dedos da caneca com achocolatado. Misturou, desfez bolas grudentas de açúcar e fixou o olhar naquele pequeno mar marrom. Tomou o conteúdo aos poucos, sorrindo com seu bigode desastrado.
Aí notou o céu. Feio, bagunçado por nuvens cinza que ofuscavam o crepúsculo. Procurou um lugar ao chão onde pudesse deitar e se perder diante da imensidão celeste. Parecia olhar pra um painel de ilusão ótica, quase como quando, na infância, folheava livros cheios de figuras que se transformavam assombrosamente. A chuva viria. Estava ela ali, grão de areia engolido pela cosmologia, e no meio do todo viu uma estrela. Miúda, pálida, talvez já inexistente. Seria outra ilusão? Entretanto, o firmamento não conseguia contê-la. A pequena mantia-se firme, dependurada diante da menina. Entreolharam-se num fim de tarde. Quase noite, quase nada. Sem certezas, sem ponderações. A pequena gigante livrou-se das nuvens, fazendo tudo limpo ao seu redor. A pequena terrestre não desejava mais do que ficar ali pra sempre. Pediu à estrela a eternidade. A troco de quê? Viver é pouco, tem de ser. Então sumiram as duas, simplesmente. Fechando-se como rosas. Permaneceram encarando a realidade reversa, o mundo alheio. Mas ao longe. Sem os sentidos. Cobertas pelo fluxo venéreo, meras desconhecidas. Que há de saber do céu, que há de saber da terra? Ao menos soubesse dela própria. E da estrela d'alva.

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