segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O último abraço

O último abraço, quando inconsciente, sela uma grande ligação. Mas cônscio ele é assustador. Você sabe que nunca mais vai sentir aquilo. Então aperta, toca, respira - já sentindo saudade. Embargando o amor, ainda hesitante. Palavras ficam pequenininhas diante da sublimidade do corpo. Não há intrepidez que resista, não há falsidade que engane. Justamente por ser derradeiro já não cabe a necessidade de mentir. E é daí que vem o medo: terminei, terminamos. Se desconhece o limite da barreira; dali em diante, o longe e o perto se confundem. Tanto faz. Porque o último abraço é o maior abandono do mundo. Terno, afável, protetor. Eu vou, mas se cuida. Eu fico, mas é hora de se despedir. O último abraço só não é generoso. Dando, faz cavar um buraco no peito e, num baque, talvez até vomitar algo por dentro do outro.
Meu último abraço, essa noite, valeu por todos aqueles que nunca havia me permitido dar. Ficou guardado numa gaveta trancada - arrombada agora porque alguém precisava desocupar o armário e vendê-lo. Desmanchar e queimá-lo, sei lá. Ignorando, embora, que esse abraço era o que de mais precioso eu ousava guardar. Eu abracei (te abracei) e isso bastou, infortúnio.