quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Alguma vicissitude

Os dias não rendem. Há tal sensação de estranheza, falta algo como pertencer. Aos outros, às ruas, às noções de tempo e espaço. Necessito ainda daquele estado de calmaria. Preciso agir como minha mais real companhia se, de fato, a sou.
Ultrapassa a solidão, atingindo estado de sítio: o interior posto em alerta.
Não posso dormir. Naufraguei em meio às vontades que tive. Como agarrar destroços é sacrificar os novos sonhos, tento controlar o que em mim não pensa: simplesmente manifesta. Inato.
Diante do esquisito rompante estremeço. Mas fico parada por sentir o peso do mundo nas costas. Um buraco negro onde trotes e escarros são absorvidos. Barulho algum interrompe, pessoas detestam dançar esse tipo de valsa. Parece o fim, não existem ao menos as assombrosas portas do Teatro Mágico. Fugiram até outra dimensão os loucos e os raros. Comigo o lobo permanece, se desespera e arranha a fechadura. Quer trancá-la, me atar a ele.
Siameses embevecidos do nostálgico. Tristes tolos.
Sorte - e revés - é justamente tentar escapar de si. Coração disparado, súbito silêncio em compasso. Sonatas apelam ao escuro imenso do buraco. Perder-me em meio a tantas vozes que nada dizem. Pessoas mentem, tropeçam no último degrau e sangram os joelhos durante uma noite inteira. Gotículas quase secas deixam vestígios cabais, brutais, escorregadios. Ninguém se oferece a lavar a escadaria. Perseguir velhos medos, dar o sangue em troca de ajuda. Pactos não são bem vistos. Faltam exploradores da solidão humana. Mais histórias desperdiçadas e outros seres acabando retardados pelo ritmo obsceno das heras que se espalham no vinco - por onde o já desgastado sangue escorreu. Agora sem cheiro, apenas cor. Aquela notícia rasgada num jornal que ninguém lê. O sinal vermelho num semáforo no centro da cidade.
O lobo só vasculha entre a carniça.