segunda-feira, 5 de julho de 2010

À espera(nça)


Não chovia porque era Julho, nunca vi chover em Julho. Nunca vi braços dados na chuva durante todos esses anos. Talvez nos filmes. Fellini, Jeunet ou Godard com suas mocinhas manhosas e espertas encontrando um rapaz de olhos impregnados por geleia de ameixa. Os mesmos olhos que não costumam ser vistos numa multidão, tímidos e angustiados. Fazia tanto frio, e por que o céu não se (des)fazer todo em gotas? Nada trazia renovação. As folhas nem caíam como no outono, o mundo estava - pelo menos nesse hemisfério - seco, vago.
Mudar-me daqui tampouco seria solucionar problemas. O calor que agora transpira ao norte é temporário, logo volta pra cá. Ser feliz pela metade não interessa a ninguém. Precisava ver homem e mulher sendo reais, verdadeiramente agraciados pelos pingos d'água. Ainda que não fosse eu junto a ti. É preciso saber abrir mão dos frutos se, porventura, verdes estão. Eu, que acho engraçada a cara que as pessoas fazem quando mordem uma banana imatura, sendo privada da adstringência dos teus lábios. Daquilo tudo que busquei descobrir entre a mudez e solidão. Precisaria ir a Marte para te esquecer. Sabe-se lá o que o cosmos guarda. Um país de sol e chuva: casamento de viúva. Refúgio da chuva e do sol: casamento de espanhol. Bastava a união entre a viuvinha e o imigrante. Beijos molhados, roupas secas, nada de resfriados. A humildade de quem deseja estar perto pois entende a falta que o outro faz. Nós dois planejando o que comer de madrugada. Felicidade despretensiosa. Há melhor jeito?
Se não te tenho montado num patinete, tu te colas ao botão mais secreto da minha camisa. Se tu não falas a minha língua, te ensino a cantar de boca fechada. Se não estás aqui, te boto num livro, viras palavra. Minha palavra mais bonita: amor. Aí viajo pelo quarto em busca de ti.

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